quarta-feira, 5 de agosto de 2009

APOLOGÉTICA CRISTÃ E O GNOSTICISMO


A APOLOGÉTICA EM AÇÃO FRENTE AO GNOSTICISMO.

Alguns pais da igreja ficaram conhecidos como os “os pais antignósticos”, isso se deu ao fato de que os mesmos se levantaram ferrenhamente contra a doutrina do Gnosticismo. A doutrina gnóstica de Deus se relacionava com especulações mirabolantes relativas ao mundo espiritual e à origem do mundo material (a assim chamada doutrina do ‘eons ). Valentino, por exemplo, supunha que 30 eons tinham emanado da Divindade em processo teogônico. O mundo material se deriva do eon mais baixo como resultado de uma queda. O Deus supremo, ou Progenitor, formava o primeiro eon, também conhecido com búthos (abismo). Do “abismo” procederam “o silêncio” ou “idéia” (sigé ou énnoia), e destes dois, “o espírito”e “a verdade”(nous e aléetheia). Destea vieram, por sua vez, “razão”e “vida(lógos e ezooée) , e destas “homem” e “a igreja” e 10 outros eons apareceram. “Homem” e “a igreja” juntos produziram 12 eons, o último dos quais “sabedoria”(sofia). Os eons, agindo unanimemente, formavam o mundo do espírito, o Pléroma, que contém os arquétipos do mundo material. O último dos eons caiu do Pléroma como resultado de ataque de paixão e ansiedade, e foi por causa desta queda que o mundo material chegou a existir. O demiurgo que criou o mundo procedeu deste eons caído.

Cristo e o Espírito Santo se originaram num dos aeons mais elevados. A tarefa de Cristo é a de restaurar ao Pléroma e eon caído e, ao mesmo, livrar as almas dos homens de seu cativeiro ao mundo material e trazê-las de volta ao mundo do espírito. Sobre esta base desenvolveu-se o conceito gnóstico de salvação. Dizia-se consistir a salvaçào no livramento das almas do mundo material a fim de que pudessem ser purificadas e trazidas de volta à esfera divina de onde vieram. Tal como acontece no neo-platonismo, que tinha muito e comum com o sistema de Valentino, a história do mundo era concebida em termos cíclico. O homem caiu do mundo da luz e era conservado cativo no mundo material. A salvação consistia na libertação do mundo material de modo que o homem novamente pudesse ascender ao mundo espiritual, ao mundo da luz, de onde vivera.

De acordo com o gnosticismo, tal salvação era possível devido à percepção superior (gnõosis, “gnose”) dos gnósticos; essa percepção era uma forma de sabedoria esotérica que proporcionava conhecimento relativo ao Pléroma e ao caminho que para lá conduzia. Mas nem todos podiam alcançar essa salvação; apenas os assim chamados “pneumáticos” que possuiam o poder necessário para receber esse conhecimento.

O gnosticismo tomou de empréstimo certos elementos do cristianismo e os introduziu em seu conceito geral de salvação. Cristo, por exemplo, era considerado pelos gnósticos como o salvador, visto que diziam ter sido ele quem trouxera o conhecimento salvífico ao mundo. Mas este não é o Cristo da Bíblia; o Cristo do gnosticismo era uma essência espiritual que emanara dos eons. Este Cristo não podia ter assumido a forma de homem. Quando apareceu sobre a terra, diziam os gnósticos, só parecia ter corpo físico. Ao mesmo tempo, os gnósticos também ensinavam que este Cristo não sofreu e morreu. O gnosticismo em outras palavras proclamava uma cristologia docética.

O conflito com o gnosticismo deixou sua marca impressa de várias maneiras na teologia desenvolvida pelos Pais Eclesiásticos nos primeiros séculos. A apresentação da fé cristã, que encontramos nos assim chamados pais antignósticos, deve ser entendida contra o pano de fundo desta situação polêmica. Para estes teólogos da igreja primitiva, a crença na criação divina ocupou lugar central de modo mais destacado que na tradição ocidental posterior, onde a doutrina da salvação foi frequentemente enfatizada às custas de outras facetas do cristianismo. Foi o idealismo gnóstico, com seu repúdio da criação, que levou os Pais Eclesiásticos a tratar tão pormenorizadamente da doutrina de Deus e da criação, bem como o problema do homem, a encarnação e a ressurreição do corpo. Outra característica evidente foi o ponto de vista moralizante que pode ser encontrado, por, exemplo, em Tertuliano. Isto também se explica, em parte, pela oposição ao gnosticismo, com sua doutrina da libertação da lei e sua deturpação antinomista do conceito paulino da justificação.

Um comentário:

  1. O gnosticísmo é uma corrente muito parecida com as religões oriental, como o hinduísmo e o budismo. A volta ao pleroma lembra muito o conceito de nirvana destas religiões.
    Hoje a uma tendência dentro das igrejas evangélicas para práticas semelhantes ao dos gnósticos, como o conceito de espiritualidade superior encorajadas pelas experiências pessoais de alguns de seus menbros.

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